sábado, 11 de agosto de 2012


A última do papagaio 

Um quarentão com alma de criança. Sim, um quarentão. O irmão mais velho que levou muitas vassouradas deixou os maus tratos sofridos em seu primeiro lar para trás e viveu feliz por longos anos com uma família que o amará sempre.

Ele e eu não tínhamos motivos para sermos grandes amigos. Ele era um bebê que dormia na cama, que tinha lugar à mesa. Enquanto eu era aquela que ameaçava seu reinado. Para deixar claro que minha chegada não lhe agradava, picou meu dedo quando eu tinha um ano. Braço direito enfaixado e uma cicatriz que até hoje perdura.

Ele e eu éramos como gato e rato. Ele me picava, eu brigava, entretanto, sempre cobria sua gaiolinha à noite. Coçava sua cabecinha e barriguinha toda vez que fosse solicitado.

Ele foi um bom papagaio, falastrão, curioso, travesso, folgado (quando batia o sono, exigia que a luz fosse apagada, fazia cara feia!). Dava oi e tchau, quando a campainha e o telefone tocavam, ele perguntava “quem é?” insistentemente, até alguém responder. Para demonstrar que estava a par da conversa, dizia “ah, é?”. 

Ele dava risada, assobiava e dançava. Músicas favoritas? Thriller (Michael Jackson) e Over my shoulder (Mike and the Mechanics). Seu gosto musical enveredava pelo popular, gostava de Kuduro e Eu Quero Tchu, Eu Quero Tcha. 

Ficava na gaiola só para dormir. Ao sair dela, arrastava seu bico pelo chão, para tomar impulso, e assim, desbravar a casa. Ele andava por todos os lugares. Suas patinhas tinham um barulhinho irritante. Adorava subir nas camas, e principalmente nas almofadas do sofá (era melhor assistir televisão assim!).

Fresco que só ele, adorava iogurte com granola, salada de alface ( na quarta-feira se fartou dela no jantar!). Adorava queijo branco, pãozinho molhado no café e pão quente.

Carinhoso, adorava ficar no colo, nas pernas e nos ombros da mãe o dia inteiro. Eram uma extensão um do outro.  Adorava brincar com rolos de lã, feito um gato, adorava roer (os meus) chinelos, feito um cachorro. 

Ele, o Loro, ou o Zé (seu apelido, não perguntem por quê!) só não foi um papagaio melhor porque nos deixou muito cedo. Loro estava com 40 anos e foi para o azulado céu dos papagaios, quinta-feira, dia 09 às 19:30 . Que São Francisco de Assis te receba bem, porque você merece!

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