A última do papagaio
Um
quarentão com alma de criança. Sim, um quarentão. O irmão mais velho que levou
muitas vassouradas deixou os maus tratos sofridos em seu primeiro lar para trás
e viveu feliz por longos anos com uma família que o amará sempre.
Ele e eu
não tínhamos motivos para sermos grandes amigos. Ele era um bebê que dormia na
cama, que tinha lugar à mesa. Enquanto eu era aquela que ameaçava seu reinado.
Para deixar claro que minha chegada não lhe agradava, picou meu dedo quando eu
tinha um ano. Braço direito enfaixado e uma cicatriz que até hoje perdura.
Ele e eu
éramos como gato e rato. Ele me picava, eu brigava, entretanto, sempre cobria
sua gaiolinha à noite. Coçava sua cabecinha e barriguinha toda vez que fosse
solicitado.
Ele foi um
bom papagaio, falastrão, curioso, travesso, folgado (quando batia o sono,
exigia que a luz fosse apagada, fazia cara feia!). Dava oi e tchau, quando a
campainha e o telefone tocavam, ele perguntava “quem é?” insistentemente, até
alguém responder. Para demonstrar que estava a par da conversa, dizia “ah, é?”.
Ele dava
risada, assobiava e dançava. Músicas favoritas? Thriller (Michael Jackson) e
Over my shoulder (Mike and the Mechanics). Seu gosto musical enveredava pelo
popular, gostava de Kuduro e Eu Quero Tchu, Eu Quero Tcha.
Ficava na
gaiola só para dormir. Ao sair dela, arrastava seu bico pelo chão, para tomar
impulso, e assim, desbravar a casa. Ele andava por todos os lugares. Suas patinhas
tinham um barulhinho irritante. Adorava subir nas camas, e principalmente nas
almofadas do sofá (era melhor assistir televisão assim!).
Fresco que
só ele, adorava iogurte com granola, salada de alface ( na quarta-feira se
fartou dela no jantar!). Adorava queijo branco, pãozinho molhado no café e pão
quente.
Carinhoso,
adorava ficar no colo, nas pernas e nos ombros da mãe o dia inteiro. Eram uma
extensão um do outro. Adorava brincar com rolos de lã, feito um gato,
adorava roer (os meus) chinelos, feito um cachorro.
Ele, o
Loro, ou o Zé (seu apelido, não perguntem por quê!) só não foi um papagaio
melhor porque nos deixou muito cedo. Loro estava com 40 anos e foi para o
azulado céu dos papagaios, quinta-feira, dia 09 às 19:30 . Que São Francisco de
Assis te receba bem, porque você merece!
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