sexta-feira, 17 de agosto de 2012


Não mais 

Uma semana. Já faz uma semana que Loro, o bom papagaio voou para o azulado céu dos papagaios. Sete dias difíceis. As lembranças do desespero que sentimos ao vê-lo perdendo as forças e a imagem dele, enroladinho em seu cobertozinho, já sem vida com o biquinho e os olhinhos cerrados vinham a todo momento. 

Mas, apesar da dor, já estamos na fase de não mais chorar ao falarmos dele com a voz embargada, e sim, com um sorriso. Temos vários motivos para isso. Porém, não há como negar, o dia a dia está inegavelmente sem graça agora.

As duas fatias de pão, uma quente, outra molhada no café. O iogurte com granola, o queijo branco. A banana com aveia no lanche da tarde. A salada de alface, o arroz com feijão. A laranja, a maçã e o girassol, afinal de contas, ele era uma ave.

O jogo de futebol sem o estridente grito de gol. Kuduro e Eu Quero Tchu, Eu Quero Tcha, já não tem mais graça. O pedido nada sutil para apagar a luz, por volta das nove da noite. Telefone e campainha tocando sem o impaciente “quem é?”. 

Não ouvir o barulho de suas patinhas no chão. Não brigar por rasgar o jornal de sua gaiolinha ou por subir no sofá. Não ter mais que esconder os chinelos. Não vê-lo mais brincar os rolos de lã de nossa mãe. Não colocá-lo mais em sua almofada e sair com ele pela casa (adorava andar em seu carrinho!).

Não ouvir mais sua reclamação quando o almoço e o jantar demorassem a sair. Se passasse do meio-dia e das cinco e quinze, ele já gritava “Ô, ô”, algo como “ cadê a comida?tô com fome!” . 

Não ouvir mais a curta cantoria que ele inventou para nossa mãe. Não ouvir mais sua alegria toda vez que chegávamos em casa. Quando isso acontecia, ele espirrava, sacudia as penas, dava risada e dizia oi. Logo depois, rasgava jornal, porque queria andar pela casa.

Apesar da tristeza por Loro ter partido, o que fica são as inúmeras boas lembranças de suas travessuras e, principalmente, de sua alegria e amor que ele sentia pela nossa mãe. E como ela mesma diz: “temos que lembrar dele com alegria, pois ele era um bichinho muito feliz!”. E assim será...


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"...Que minha solidão me sirva de companhia.Que eu tenha a coragem de me enfrentar. Que eu saiba ficar com o nada e mesmo assim me sentir como se estivesse plena de tudo." Clarice Lispector

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